RESENHA LITERÁRIA no Blog “AS GAVETAS DA MINHA CASA ENCANTADA"
02-04-2020
RESENHA LITERÁRIA no Blog "AS GAVETAS DA MINHA CASA ENCANTADA" de Andreia Morais (02 de abril de 2020)

«No fim resta a obra»
O azul foi sempre a minha cor favorita. Por me aproximar da imensidão do céu e do mar. Por fazer parte do meu clube. E, sobretudo, por me recordar o colo que eram os olhos da minha avó materna. Quando o Pedro Vale entrou em contacto comigo, propondo-me a leitura do seu livro de estreia, senti logo este elo emocional ao ler o título. E, depois, mergulhei num dos dialetos mais intensos da humanidade: a poesia.
Azul Instantâneo reúne os poemas publicados na sua página de facebook, entre março de 2016 e setembro de 2017, demonstrando-nos a agilidade do seu pensamento. A consistência. E a evolução da sua escrita. Sem ter qualquer bagagem, fui agradavelmente surpreendida pelo seu talento e pela criatividade intrínseca às palavras e à forma como as dispôs. Porque esta obra é muito rica ao nível visual, criando uma cadência que ultrapassa os cânones do verso. Portanto, ao folhear, virtualmente, este exemplar, encontramos uma estruturação inovadora, que nos desafia a captar as entrelinhas do seu traço iconográfico.
Sinto-me sempre sem rede a analisar poesia, pois tem uma aura muito singular. E, acredito, representa um processo de interpretação visceral, nem sempre nítido. Apesar disso, adoro as reações que desperta no lado esquerdo do peito. Com um tom filosófico, mas racional na mesma proporção, faz-nos deambular pela voz da nossa consciência, pelo cansaço de viver, pela solidão, pelo caos. Embora seja percetível a desordem interna e emocional, também partilha a beleza do olhar, do sentir, do sonhar, da própria passagem do tempo e da vida; e do privilégio de sermos autênticos. Explorando os limites da linguagem, sem ter qualquer pretensão de criar um fio condutor entre mensagens, não abraça apenas o nosso idioma. Além disso, há poemas que nos fazem mesmo sentir o seu ondular, envolvendo-nos na sua dança. E o que escreveu dedicado ao Porto tocou-me particularmente.
Azul Instantâneo apelas aos nossos sentimentos e à nossa imaginação. Tem várias cores por dentro. E consegue ser, de um modo muito equilibrado, firme, suave, livre e misterioso. Com uma mancha textual calmante, revolta e reflexiva, que nos inebria, impele-nos a explorar a nossa alma perdida. E a procurar um sentido para a nossa jornada.
Andreia Morais
Deixo-vos, agora, com algumas citações:
...
"Talvez um dia recordes
num qualquer espelho torto
quão simples fora a tua salva"
[p:12];
...
"O rio não corre,
Só o pensamento"
[p:34];
...
"Finto a noite
A eterna substância
Do tempo:
Memória e vento"
[p:45].
Pedro Vale
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