RESENHA LITERÁRIA na Web “MIRADA DA JANELA”

07-10-2019

RESENHA LITERÁRIA na Web "MIRADA DA JANELA" de Taciana Oliveira (07 de outubro de 2019)

O livro Azul Instantâneo de Pedro Vale nasceu da reunião de poemas e textos postados anteriormente em uma rede social. Dona de um arrojado projeto gráfico, a obra nos convida a desvendar a essência visual do poema. Para isso é necessário se reconstruir, se permitir a conexão com a matéria do imprevisível e imaginário. Nada é fácil e constante. Pedro oferta a dúvida, o abismo, a palavra-sopro, a convulsão. Para o poeta o poema é letal e expande-se na peregrinação pela existência. Há sempre um pulsar, um despertar áspero-suave pronto para provocar o desejo, a revolta e denunciar a dor de existir:
Forais, tristeza, maresia, merda da fazenda, bênção, distinção,reforma secular, implicação, falsa sensibilidade, alicate, resposta,espanto, fratura ou reboque lateral.Alheamento absurdamente temperamental.Trecho do poema Tecetera e talA obra não parece ser atrelada a um tema específico, algo que sustente a linearidade da sua estrutura narrativa, porém o leitor não precisa juntar pistas, elaborar teorias do inconsciente para mergulhar no tempo onde Pedro não suporta o cansaço, mas tece fios de esperança e desenha imagens de uma melancolia nobre e sincera. Os versos reverberam uma nostalgia fotográfica, uma urgente saudade do futuro. O poema é memória. Pedro Vale na sua voraz produção espelha sua condição estrangeira em águas onde nadam náufragos e navios fantasmas. O autor escreve sua carta, seu mapa de sensações:
...


É preciso viver sem paixões.

Mergulhar no absoluto anonimato,

Permanecer morto ou vivo até ao fim.

Aclamar o tumulto escuro e bruto. 

Encenar o drama clemente e lento. 

Sentir um amor ideal por anjos nebulosos. 

Descobrir um novo fundo de poesia e aguardar

 uma voz que nos ordene docilmente:

- Não te movas, nem te inquietes, nem traias o que

ainda não

és.

...

Azul Instantâneo é também uma jornada transmutada em prosa poética. Pedro desafia signos e a "arquitetura" do poema, Um confronto ácido, um sonho fácil, uma realidade difícil, uma paisagem, uma música sem definição, poema concreto, sem rimas, sem fim:

...

Deitada na praia, fecho os olhos e recordo tudo aquilo que ainda não vi.



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